Micose fungóide: doutor, o que pode ser essa mancha?

Um homem de 55 anos de idade entra no consultório referindo manchas escuras no abdômen, parecendo uma micose. As manchas coçam de vez em quando, descamam um pouco. Já tomou antifúngicos e passou várias pomadas por conta própria mas as manchas parecem até aumentar de tamanho. E como o tempo passa rápido! Ele se deu conta que as manchas estão ali há quase 1 ano, e uma lesão nova nas costas apareceu há 2 meses, quando ele resolveu procurar ajuda de um dermatologista.

Essa história é um exemplo comum do que costumamos ouvir em consultório num caso suspeito de micose fungóide.


Ao contrário do que o nome sugere, não se trata de doença causada por fungo. Foi assim denominada pela semelhança das lesões causadas por fungos.


Mas a micose fungóide não é uma doença contagiosa. Trata-se de um tipo de câncer das células inflamatórias da pele. Para ser mais específico, é um linfoma cutâneo de linfócitos T - e é a forma mais comum entre os linfomas cutâneos da pele.


Apesar de ser uma doença rara, precisa ser sempre lembrada e descartada na avaliação dermatológica. Isso por ser uma grande imitadora de doenças mais comuns e sem malignidade, como dermatite de contato, micose propriamente dita, alergias, dermatite seborreica, dermatite atópica, psoríase dentre outras.


Acomete com maior frequência homens acima de 50 anos de idade, mas tem sido descritos raramente casos em crianças e adolescentes. Em geral, apresenta um curso longo de anos ou décadas. Inicia-se com manchas avermelhadas e descamativas mais comumente em áreas cobertas do corpo. Com o passar do tempo, essas manchas vão ficando mais espessas, podendo formar placas e até tumores que podem ulcerar.

A evolução da micose fungóide é variada. Alguns casos têm um curso fulminante, com disseminação rápida para órgãos internos e morte. A maioria, entretanto, tem um curso arrastado e com baixos índices de mortalidade.


Quanto mais precocemente se realizar o diagnóstico, maiores são as chances de cura da doença. O problema é que, nas fases iniciais, as biópsias podem ser inconclusivas pelo pequeno número de células tumorais presentes nas amostras. Por isso é importante fazer biópsias das manchas de diferentes aspectos e diferentes lugares do corpo. Assim aumentam-se as chances de se confirmar (ou excluir) esse diagnóstico.


Uma vez confirmada a micose fungóide, o estadiamento da doença é feito através de tomografia de tórax, abdome e pelve, além de biópsia de medula óssea.


O tratamento varia desde pomadas a base de corticóides, retinóides, imiquimod, corticóides injetáveis, quimioterapia tópica, fototerapia até radioterapia e quimioterapia sistêmica, dependendo da gravidade e extensão do caso.


Como você pôde ver, manchas de pele nem sempre são "coisa à toa". Procure seu dermatologista de confiança quando notar algo diferente na sua pele.