Tenho Vasculite Leucocitoclástica. E agora?

A Vasculite Leucocitoclástica (ou vasculite de Hipersensibilidade) não é uma doença rara. Ela pode afetar homens e mulheres de todas as idades. Existem causas ocultas para essa doença - e podem ser múltiplas. Frequentemente, é uma condição limitada e benigna da pele. Pode se tornar crônica e apresentar crises recorrentes, com impacto psicossocial significativo. Se você acabou de receber esse diagnóstico, espero que esse artigo possa te esclarecer algumas dúvidas.

O que é Vasculite Leucocitoclástica na pele?

Classicamente, a doença se apresenta como bolinhas ou manchas na pele de cor vermelha, vinhosa e até roxa. Estas lesões costumam começar com alguns milímetros, ou confluir e formar manchas com alguns centímetros. Localizam-se principalmente nas pernas, mas também podem acometer coxas, nádegas e abdômen. A parte superior do corpo é afetada com menos frequência.

O número de lesões é extremamente variável, atingindo até centenas. As manchas vermelhas podem ficar em alto relevo e se tornar endurecidas, com crostas pretas. Uma possível evolução é o desenvolvimento de úlceras e pequenas bolhas de sangue. As lesões ulceradas, principalmente as dos membros inferiores, podem demorar a cicatrizar. Quando desaparecem, podem deixar manchas escuras ou formar cicatrizes.

As crises podem ocorrer com intervalo de dias, semanas ou anos - até o início do tratamento ou a retirada do fator desencadeante.

Qual é a causa da doença?

Em cerca de metade dos pacientes, conseguimos identificar uma causa para o surgimento dessa doença, que pode ser:

  • Infecção (15-20%);
  • Doença inflamatória - autoimunidade ou doenças do colágeno (15-20%);
  • Medicamento, droga ou alimentos (10-15%); e
  • Malignidade - câncer em outros órgãos (<5%).

Entretanto, o fator causal da doença continua desconhecido em quase metade dos casos.


O que acontece com quem tem Vasculite Leucocitoclástica?

Depois que a descoberta da Vasculite Leucocitoclástica é confirmada por biópsia da pele, o trabalho do seu médico está apenas começando. A extensão e as características das suas lesões de pele não predizem com segurança a causa ou a chance de encontrar manifestações graves em outras partes do corpo. Por isso seu médico vai insistir em realizar uma análise minuciosa da sua saúde global. Com isso, tenta-se identificar possíveis causas sistêmicas da doença.

A doença pode apresentar um curso altamente variável. Geralmente, a evolução é boa, mas se houver envolvimento de outros órgãos, é possível que se torne uma situação mais delicada e com necessidade de cuidados e acompanhamento específicos.

Trata-se de uma reação de hipersensibilidade do paciente a diferentes agentes: o resultado do tratamento depende da doença oculta associada (se houver) e se um determinado gatilho (infecção, medicamento etc) é responsável pelo aparecimento da crise. Assim, a vasculite geralmente é autolimitada e regride se a infecção for curada ou o agente causador for interrompido.

A qualidade de vida do paciente pode ser muito impactada com as crises recidivantes de manchas vermelhas e úlceras de difícil cicatrização. E isso acontece principalmente quando não se consegue encontrar ou retirar o fator causal ou desencadeante da doença.

Como me cuidar e tratar da Vasculite Leucocitoclástica

A maioria dos pacientes se preocupam com as lesões da doença por motivo simplesmente estético. Elas raramente são dolorosas - a menos que se tornem ulceradas. Podem causar coceira ou serem acompanhadas de um desconforto ou sensação de peso dolorido, principalmente nas pernas e pés. Além disso, dores nas articulações, principalmente nos tornozelos, são comuns durante ou antes das crises.

Seu médico vai querer saber o que você sente antes e durante o aparecimento das manchas: especialmente se houve febre, dor abdominal, dormência ou formigamento nas mãos ou nos pés, presença de sangue na urina ou fezes, tosse ou falta de ar. Tudo isso é importante para se identificar manifestações potencialmente graves de vasculite fora da pele.

Inclusive, você pode ajudar a identificar esses fatores desencadeantes ou agravantes da vasculite:

  • Ingestão de um determinado medicamento ou alimento (observar no dia a dia relações de causa-efeito);
  • Ingestão de álcool;
  • Permanência prolongada em uma determinada posição;
  • Ambientes com calor ou umidade excessivas;
  • Menstruação; e
  • Infecção respiratória superior ou outras doenças infecciosas não complicadas.

Raramente esses fatores são considerados as únicas causas da vasculite, por isso a importância de se pesquisar doenças ocultas em outros órgãos. No entanto, a identificação desses gatilhos pode desempenhar um papel importante no gerenciamento da doença a longo prazo.

Orientações que ajudam a reduzir o desconforto e tempo de duração das manchas:

  • Durante a crise, mantenha repouso;
  • Elevação das pernas no fim do dia;
  • Usar meias de compressão e bolsas de gelo nas áreas afetadas ajudam na regressão das lesões;
  • Pode-se tentar dietas restritivas (como de restrição de carboidratos e glúten) para redução de inflamação e obter um melhor controle da doença.

O tratamento da vasculite leucocitoclástica muitas vezes necessita de um acompanhamento multiprofissional, de acordo com os possíveis gatilhos e causas suspeitas em cada paciente. Não deixe de procurar a curadoria do seu médico de confiança: tenha ele como um aliado na busca do "viver melhor".